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Paris Fashion Week Report

sábado, março 12, 2016


Se quiséssemos dar um “berço” à moda seria sem dúvida Paris. É aqui que nasce a moda como a conhecemos hoje, é aqui que surgem os primeiros couturiers e é aqui que nasceram algumas das mais emblemáticas maisons. Se juntarmos tudo isto aos encantos da cidade das luzes temos então a receita para uma das fashion weeks mais aguardadas de todas as temporadas. E talvez por ser a última é o culminar de tudo, quase como um final feliz para um mês completamente assoberbado.  

Durante 9 dias todos os olhos estiveram postos em Paris e a verdade é que ninguém sabia bem para onde olhar. Uma lista infindável de supermodelos, trendsetters, bloggers, it girls encheu a capital francesa. Foi um corrupio louco de desfiles atrás de desfiles onde choveram novidades, tendências e surpresas.  

Existe sempre uma grande expectativa por trás dos desfiles da Chanel. Não sei se será curiosidade para ver as novas coleções ou curiosidade para saber que cenário Karl Lagerfeld inventou desta vez. E mais uma vez voltou a surpreender mas não por ter conseguido superar o aeroporto ou o supermercado, mas sim por não ter feito nada. Bem na realidade fez e há até quem diga que o facto de ter abandonado os cenários megalómanos é só por si um certo ato de revolta. Lagerfeld decidiu optar por ambiente que em tudo fazia lembrar as primeiras apresentações de alta-costura e onde todos os convidados tiveram direito a um lugar na tão cobiçada primeira fila.
Foi também às origens que regressou Hedi Slimani. A sua clara homenagem ao trabalho de Yves Saint Laurent contou com um pequeno twist bem ao estilo dos anos 80, mantendo assim o seu cunho especial que revolucionou a maison francesa e que a tornou num dos nomes mais “cool” do momento.

Foi a semana de estreias: Balenciaga com Demna Gvasalia e Lanvin sem Alber Elbaz. Quem viu a ultima coleção de Alexander Wang para Balenciaga e a primeira coleção sob a direção de Gvasalia vê uma diferença abismal. Tal como Hedi, também o ex-diretor criativo da Maison Martin Margiela foi beber inspiração ao criador da marca, Cristóbal Balenciaga, mas como uma abordagem bastante própria que já notória no seu trabalho para Vetements.

Lanvin foi uma marca que nunca me “aqueceu nem arrefeceu” mas confesso que o trabalho desta equipa me deixou com a “pulga atrás da orelha”. As opiniões divergem: há quem diga que perdeu por completo o cunho especial de Elbaz e há quem diga que perdeu a identidade que a marca tinha vindo a construir. Pensando bem talvez tenha sido que me fez olhar duas vezes para esta coleção. 

Se o desfile de Balmain primou, entre muitas outras coisas, pela diversidade do line up, Miu Miu seguiu a mesma onda. Mas se Oliver se cingiu à multiculturalidade, Miuccia apostou nas curvas de Lara Stone, Irina Shayk e Adriana Lima. Também a coleção foi no mínimo diversa: uma mistura explosiva de sobreposições e de influências com peças para todos os gostos, mas sem nunca perder o fator Miu Miu. 

Apesar da coleção de alta-costura da Dior não ter fracassado, depois do trabalho fenomenal de Raf Simons está tudo à espera que esta equipa falhe redondamente. Pois bem ainda não foi desta. Talvez por se manterem fiéis à estética da maison, a equipa liderada por Lucie Meier e Serge Ruffieux tem conseguido “segurar o barco” mas já mostraram que não querem que o seu trabalho acabe por desaparecer nas sombras de um futuro diretor criativo.

Giambattista Valli e Elie Saab já nos habituaram a coleções completamente encantadoras, dignas de verdadeiras princesas. E enquanto Giambattista se mantem fiel a esse registo, apenas trocando os longos vestidos pelos mil e um vestidos de cocktail, Elie Saab caminha a passos largos para uma nova identidade: tem deixado os seus vestidos “de cair para o lado” na semana da moda de alta-costura. Quem diria que algum dia me iria apaixonar por um “biker jacket” de Saab. 

Em Janeiro fiquei completamente nas nuvens com a coleção couture da Valentino e mais uma vez a dupla à frente da marca deu provas de que sabe bem o que anda a fazer. Na verdade eu não precisava de mais provas, há muito que me rendi aos encantos de Maria Grazia Chiuri e de Pierpaolo Piccioli. Gosto da identidade que têm vindo a construir para a marca, gosto de toda a coleção que me faz querer regressar aos meus tempos de bailarina e gosto particularmente da mensagem por trás de tudo isto: viver o presente e aproveitar o momento. Por mais cliché que seja, numa indústria que cada vez funciona mais à velocidade da luz, é de louvar que ainda haja quem acredite que nem tudo é efémero.

O encerramento das hostilidades ficou a cargo de Nicolas Ghesquière. Confesso que tenho um espaço muito especial no meu coração para a Louis Vuitton de Marc Jacobs e que ainda me estou a habituar a esta nova abordagem. Mas reconheço que a marca estava a precisar desta visão fresca e arrojada para reacender o buzz à sua volta. Sem dúvida que a Louis Vuitton dos monogramas não é Louis Vuitton de Ghesquière.

Sem dúvida que há duas coisas que esta semana me ensinou. Em primeiro lugar podemos esquecer a velha “lenga-lenga” do “menos é mais”. Decididamente “mais é mais”. Em segundo lugar é melhor estarmos sempre preparados para a mudança, por que na realidade é o que mantém o mundo da moda vivo.

(Imagens via Vogue Runway)

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